quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Assistência psicológica melhora gestação de soropositivas

Matéria publicada no Jornal da USP em 23/09/2010



Gestantes portadoras do vírus HIV podem ter uma gravidez de maior qualidade se tiverem, além de um pré natal adequado, um espaço durante a gestação para falar de suas angústias e sentimentos. O estudo A vivência da maternidade: um estudo com gestantes portadoras do HIV, apresentado na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, também concluiu que essas mães precisam de assistência psicológica diferenciada, bem como de um espaço para realizar discussões sobre o planejamento familiar e a educação sexual.

A pesquisa objetivou saber como as gestantes entendem a maternidade no contexto da doença e qual é o impacto desta em suas vidas. “Por meio de entrevistas, as gestantes entrevistadas davam sua impressão sobre como percebiam a gravidez, como se percebiam enquanto mulheres e como encaravam o tratamento durante o pré natal”, declara a psicóloga Luciana Trindade Valente Carneiro, autora do estudo.

A partir dessas declarações foi constatado que durante a gravidez os problemas mais comuns se referem a questões emocionais e não clínicas, uma vez que o pré natal é realizado em um ambulatório diferenciado. Luciana explica: “Há muita insegurança por partes dessas mulheres em relação ao futuro, ou seja, se o bebê nascerá saudável ou a dúvida se na medida em que as crianças crescerem elas estarão presentes. Já em relação ao quadro clínico, todas se sentiram muito seguras ao realizar o pré natal dentro do ambulatório.”

O Ambulatório de Moléstias Infecto Contagiosas em Ginecologia e Obstetrícia (AMIGO), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP), local onde foi realizada a pesquisa, é referência na área. “Ali o trabalho realizado é de vanguarda e já conta com uma equipe multiprofissional o que justifica a sensação de segurança dessas gestantes em relação à saúde física”, ressalta Luciana. “Mas, nem sempre é assim. A realidade no Brasil é diferente. Daí a necessidade de haver um trabalho multiprofissional, no qual junto com os médicos atuem psicólogos, assistentes sociais e outros técnicos. O lado psicossocial dos usuários deve ser trabalhado”, acrescenta a pesquisadora.

É neste âmbito que foi criado, no período da pesquisa, o “Grupo de Sala de Espera”, no qual as gestantes do AMIGO, enquanto esperavam por sua consulta, podiam conversar e compartilhar com outras na mesma situação seus temores e ansiedades durante o pré natal. Esse grupo sempre foi acompanhado por um psicólogo. “Ali elas podiam falar das ansiedades e dos temores que vivenciavam durante a gravidez, como o medo do parto. Este espaço de conversa qualifica a assistência”, assinala Luciana.

Tratamento
O estudo constatou que a maioria das gestantes aderia ao tratamento durante a gestação por medo da possibilidade da transmissão vertical do HIV ao bebê, pensando sempre no bem-estar do filho e não no bem-estar próprio. Tal fator não é positivo, pois pode significar que após a gravidez a mulher interromperá a medicação. “Isso é ruim porque mesmo após o parto elas devem se tratar para que os sintomas da doença não se efetivem.”

A proposta é que haja um tratamento e acompanhamento permanentes. “A mulher deve se cuidar e não só do filho”, afirma Luciana. “Com um trabalho integrado você pode, não só incentivar o tratamento correto, mas também minimizar questões psicológicas e emocionais , tão comuns em gestantes soropositivas”, conclui.

A dissertação foi orientada pelo professor Marco Antonio de Castro Figueiredo, do Departamento de Psicologia e Educação da FFCLRP.

Mais informações: email lucianavalente@hotmail.com, com Luciana Trindade Valente Carneiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Confira as postagens mais populares do Entre Receitas